A Terra muda Tudo mudam Todos...

Sunday, April 29, 2007

DEVANEIO NOTURNO

Ela queria falar de música. Sentiu, cantou, quase dançou... Os ritmos, as melodias vibravam em sua mente, em seu sangue. Estava à flor da pele. As palavras musicadas envolveram-na naqueles momentos. Fez da noite pura festa. Festa interior, exteriorizada em sorrisos e olhares, brincadeiras e risadas.

Por fim a energia acabou. Não foi o silêncio ambiente que lhe incomodou: foi o aviso da memória de que um dever, uma sina marcavam-na como um karma. Não acreditava nessa linha filosófica, porém tinha certo que destino não se evita nem dele se foge.

Lágrimas escaparam-lhe. A escuridão ao redor camuflou este desabafo - por tanto tempo contido; havia semanas não chorava.

Concentrou-se no concreto do ser: sentiu as mãos, a respiração, o perfumado cheiro e palavras de consolo fizeram ouvir seu coração. Adormeceu.

Amanheceu.

Friday, April 27, 2007

FRONTEIRAS ALARGADAS


Acatada a sugestão, ela se pôs a escrever...

Tudo começou com os livros e os gibis. Aprendeu a viajar através de suas páginas e palavras. Com o passar do tempo, aprendeu também as histórias e estórias e descobriu que poderia escrever a sua própria.

E foi assim que levou a vida, e continua levando, sem nunca se deixar levar. Buscou alargar suas fronteiras, expandir seus horizontes e voar mais alto. Conheceu pessoas e lugares, afeiçoou-se a corações e voltou às suas origens. Repleta de tesouros a compartilhar.

Em sua bagagem havia imagens, informações, sabedorias, experiências, pensares, habilidades e conhecimentos. E estava tudo dentro de si. Era-lhe o mais rico tesouro, pois ao compartilhar, não diminuía; ao usá-lo, ao contrário de diminuir somente multiplicava!

É certo que por onde ela for, carrega consigo riquezas incontáveis sem lhe cansar nem dificultar na caminhada da vida o peso dessa carga. Ao contrário, abre-lhe largo sorriso no rosto e seus olhos iluminados clareiam seu caminho ao saber que é possuidora de tão valioso bem.

E eis que tudo também para ela continua: a possibilidade de novamente sair, voar alto; aprender, saber, conhecer, compartilhar, conviver mais. Continuar com sua sede de ampliar horizontes que, desta vez, se for seu destino, será em terras de belíssimo horizonte. E não somente lá, também além de tantas outras fronteiras que lhe forem surgindo e se abrindo.

Wednesday, April 25, 2007

DOIS

Era clara a semelhança pura entre aqueles dois. Seus olhares declaravam o amor mútuo incondicional. Era como se seus corações estivessem acelerados pelo simples fato de passar as poucas horas da tarde junto um do outro. Abraços, beijos, carinhos... Conhecimento, novidade, descontração, questionamentos, descobertas, admiração, risos...

A presença de estranhos ao redor temperava o incomum programa dos dois. O compromisso de vida de um para com o outro aflorava de seus olhares e dos sorrisos que emanavam de suas feições tão delicadas e belas. Duas vidas, dois olhares, dois corações unidos por toda a existência. Inseparáveis.

A união inabalável na mesma proporção crescente com que aumenta a constância de seus encontros, da troca cúmplice de olhares, do inigualável prazer dos toques e carinhos, do comprometimento e companheirismo, consolo e amparo que mutuamente buscam um do outro.

Ainda que inconscientemente, mesmo que timidamente, eles precisam, desejam, anseiam e alcançarão isso. Está escrito em seus corações, e visível em seus olhares. E conforme a bondade plantam, é certo que alcançarão tudo isso.

Sunday, April 22, 2007

CONTO DE CÃO*

O começo disto aqui, que você vai ler agora, foi porque eu me lembrei do Lulu... Um vira-latas que temos na casa de meus pais. Foi presente de um vizinho querido e amigo à minha irmã caçula. Mas o vira-latas fica entre nós, porque se o Lulu fica sabendo... Já se foi uma escritora! (amadora, eu sei, mas escritora com todas as letras!!).

Pela primeira vez comecei procurando a foto pra ilustrar o texto - o que geralmente só é feito depois que já escrevi tudo e só faltando mesmo postá-lo. Passeei pelo site de fotos procurando por "dogs". Deparei-me com cada figurinha que só vendo! Muitas, cada uma mais fofa, outras engraçadas, algumas feias... Todas deleitantes para as vistas! Arte. Foto, pintura, desenhos... Tudo arte! Assim como as letras, as palavras, as frases, os textos, composições. Enfim, encontrei esta foto aí, que ilustra este texto!

Fala sério! O Lulu não gosta de livros! Nem liga pra revistas espalhadas pra todo canto da casa... Não as pega, muito menos as rasga! Passa ao largo de todas! Que dizer então dos livros! A menos que estejam no chão, ele nem liga pra eles! Pois no chão é aquela oportunidade típida dos quadrúpedes latidores para carimbá-los com seu fedorento líquido amarelado! Se bem que livro nunca vai ser encontrado no chão da casa em que o Lulu mora!

Ih! Mas já desviei do assunto que eu queria falar! Até porque primeiro eu pensei em fazer-lhe uma poesia homenageativa... Mas acabou saindo esse texto quando vi a foto do cachorro dormindo entre livros... Ah, quem me dera o Lulu assim, amante de livros...

Mas sabe qual é a do Lulu? Peraê! Tá faltando apresentar o Lulu. Ele não é somente o cachorro da casa. Ele é o centro das atenções de todo mundo naquele lugar-lar! O nome de batismo do Lulu é Lou Lou. Coisa de irmã caçula fã do tal perfume (nem sei se ainda é!!). Já pro patriarca da casa, Lulu é o diminutivo de Ludwig von Au Au, o verdadeiro nome do cão.

Só que depois de tempos de convívio, o cachorro aprende que existe um tal "Delúbio" que deu de aparecer tanto na TV, ser mencionado em tudo quanto é jornal e telejornal e radiojornal dando fim a crise de identidade do cãozinho! Ele explicou ao "Seu" Lili (o patriarca da casa) que agora sabia qual o seu real nome: Delúbio! Podem imaginar a surpresa do Patriarca, o "Seu" Lili, ao ouvir aquilo do cachorro que há anos fora criado, cuidado, alimentado, atendido, bajulado, presenteado, banhado por todos com esmero e carinho... Identificar-se com tal cidadão (???) brasileiro?

Vê-se então que Lulu não é um cão amigo de livros, e sim de TV, das mais massificadoras possíveis!, a ponto de saber de Delúbio e sem escrúpulos adotar o nome para si... Ah, cachorrinho danado... Vai ver por isso, veio castigo dos céus: envolveu-se num "ataque terrorista" - segundo o próprio Lulu - que o trouxe de volta pra casa totalmente ensanguentado, esmigalhado, quebrado coitadinho! Ficou dias sem conseguir dormir, traumatizado... Disse ter visto os vagões de trens de Londres todos destruídos, sangue pra todo lado, gente em fuga... Mas sobreviveu heroicamente pra poder contar a história!

Agora, o Lulu, Delúbio, Ludwig ou Lou Lou (chamem-no como quiserem, desde que não critiquem o coitado de ser de Água Boa - segundo ele, se Bill Clinton é de "Pedrinha" e ninguém goza o Bill, então, que digam que ele é de Good Water ou então não falem que seja cachorro da roça!)

Bem, voltando a atualidade do Lulu: ele surgiu com uma novidade. Tem hipertrofia cardíaca! Mas esperto que é, já tranquilizou todo mundo: pode continuar tomando anestesia pra limpar os dentes e vai, sim, continuar vigiando a casa e passeando pela vizinhança quando lhe der na telha, afinal, negar a raça ele não vai, não!!




P.s.: Tive vontade de escrever sobre o Lulu porque soube que ele tem doença de coração e, apesar de ser muito irritante de vez em quando, a gente adora o Lulu e ri muito dele. E cá pra nós, tudo isso é verdade sobre ele. Embora não goste de livros, e assista muito TV... Ele é um cachorro esperto, que só vendo! Agora, a gente tem que ter cuidado porque o Lulu não pode ser contrariado, sofrer sustos e fazer muitos esforços... Coisas de coração (de cão!). Mesmo doente o Lulu nos faz morrer de rir!!
P.s. 2: Não postei a foto do Lulu porque ele não permitiu. Cobrou um cachê muito alto! Se alguém quiser patrocinar, é só entrar em contato, pois que então a conversa será outra ;)

* Reedidato; 1a. Edição, 2° semestre 2005.

Wednesday, April 18, 2007

ELA É AMOR

Às vezes eu não sei se sei o que é amor. Hoje em dia esta palavra tão importante é exageradamente usada e já não creio que carregue o significado que deveria. Ou talvez as pessoas não mais a compreendam. Será mesmo a "banalização" do amor, que tanto se propaga?

Sei que existem o amor eros, o amor ágape e o amor... Não me lembro do terceiro. Mesmo chamando o amor dentro de uma dessas "classificações", também ando perdida a respeito de em qual delas melhor se encaixa o sentimento que tenho - positivo - por aquela menina-moça-mulher.

Ela é uma rocha. É sim! É uma pétala acetinada de uma flor do campo. Seu ser é firme como a raiz das sequóias. E é fascinante como a borboleta em seu vôo suave. Tem sabor de doce de fruta cristalizada e aroma de rosas ao seu redor. Tem brilho nos olhos e no sorrir. A bondade lhe foi generosa: emanando dela para todos os lados, incessantemente esquece de si para pensar no próximo. É arco-íris de cores e sons. Tem nas mãos os tons e o ritmo. Ela é um vulcão prestes a explodir, e é a brisa que brinca com nossos cabelos, num final de tarde na varanda.

Deve ser, sim, "o tal" amor, esse sentimento aqui dentro que nutro por ela. E agora meus olhos marejam e meu coração aperta pois saio de sua presença com palavras, carinho, afeto insuficientes para aplacar um pedacinho de sua dor.

Quero pensar que nesse instante ela jaz descansando e dormindo como os anjinhos celestes. Porque ela também é anjo. Ela é amor, definitivamente!



PS.: Por causa dela, acabo de "redescobrir" e "renovar" em mim o amor!

Sunday, April 15, 2007

MUDANÇAS E HORIZONTES

As pessoas devem mudar. É fundamental que mudemos. É pela evolução, aperfeiçoamento, variedade...

Só não vale mudar para agradar a outrem. Devemos mudar pra agradar a nós mesmos, para nos tornar pessoas melhores, para contribuir com a evolução do grupo ao qual fazemos parte, para investir no que acreditamos e desejamos...

Mudanças que nos beneficiem e aos que nos rodeiam sempre são válidas e bem-vindas.

Aliás, toda mudança pessoal é de inteira responsabilidade de quem vai, quer ou precisa mudar. As dificuldades, esforços, obstáculos a superar são incidentes principalmente sobre essa pessoa. E os benefícios de uma boa mudança também.

Não é bom que alguém mude a si mesmo apenas para agradar a outrem, ou por intenções egoístas e doentias... Porém, somente a própria pessoa deve entender as implicações de uma mudança assim.

Algumas situações podem ter aparência de mudança por causa de outras pessoas que não de si mesmo. Aquele clássico caso de "querer agradar”. E estas situações podem ser preocupantes. Por outro lado, a aparência de mudanças assim muitas vezes nada mais é que a expansão de horizontes, ampliação de conhecimentos e habilidades.

Ver isso, constatar que alguém a sua volta está adquirindo novos e bons hábitos, para somar aos seus já adquiridos um leque amplo de sensibilidade, capacidade de usufruir ainda mais das possibilidades que a vida e o mundo oferecem de uma forma melhor, é inspirador...

É a capacidade de compartilhar, por exemplo, o gosto pela fotografia artística e os conhecimentos pelos automóveis e sua mecânica, o bom humor das brincadeiras e a descontração da praia no clima frio das montanhas, a animação da metrópole e o isolamento das matas e cachoeiras preservadas...

Coisas assim são animadoras e balsâmicas, incentivam a alma, acariciam o coração, abrem sorriso nos olhos. Mudanças e amplos horizontes, uma combinação deliciosa.

Friday, April 13, 2007

FARTURA DE NADA

Em meio aos seus achados, perdeu-se. Abastando-se de idéias alheias e influenciando-se por histórias imaginárias sentia que mais um dia esvaía sem que conseguisse perceber qualquer algo realizado por sua própria atuação.

Via as gentes indo e vindo, ou apenas indo – deixando o vir para quando lhes aprouvesse o voltar... Instante após instante constatava o silêncio aumentando ao seu redor, o vento crescendo mais fresco e aquele incômodo dos insetos já bem familiares em seu quarto.

Ali gastava a maior parte de seus dias, de sua vida: entre livros, papéis, recortes e as ferramentas básicas de um artesanato amador. Tirar o meio do dia para a confecção do nada talvez lhe tenha sido o arrependimento que surgia. Já não tinha muito a fazer e interromper suas poucas atividades por nada pareceram-lhe agora como uma sentença de uma vida inútil.

Queria encontrar o que lhe dava prazer. A letargia impedira o corpo de retomar a atividade física antes tão prazerosa; a incessante tendência ao isolamento impunha-se a ponto de recusar alguns convites informais para sociabilizar-se. Nem mesmo a variedade de vestuário à disposição tornava-lhe convincente de que estaria atraente, naturalmente elegante (como era sempre sua preferência ao aparecer em público. Nestes casos não incluía os compromissos profissionais e toda a adequação de vestuário requerida para tais).

A memória traía-lhe com lembranças de um passado um tanto quanto remoto, trazidos pelas palavras de uma colega. Distante, reforçava a certeza de que foi o melhor a ser feito, foi uma decisão acertada para toda sua vida, embora não fora uma decisão própria. Agradecia haver tido alguém que decidira algo que lhe fortalecera o caráter.

Agora era tempo de criar coragem para as próprias decisões. Assumir o amadurecimento, forçado embora necessário, a dor da mudança e do desaparecimento do que um dia lhe foi tão admirado e querido: Os próprios traços de pureza e ingenuidade - não mais os teria.

Tomar conhecimento de antigos cálculos e pretensões, nunca antes expostos, desconhecidos até então, apenas traziam sobre si resquícios de uma seqüência de erros, após os quais obtivera toda a perda computada e poucos ganhos somados.

Justamente o que lhe prendia a afeição, e inexistia agora, impedia seu avançar no crescimento e conhecimento da vida, do tornar-se quem almeja, ainda inconscientemente, e carece de ser.

INGREDIENTES

Prazer: energia que nos satisfaz para as obrigações. Sol: energia que renova cor, brilho, calor, sorriso. Céu azul: abrigo de paz, infinito e eternidade, pureza e tranqüilidade. Amor: essência.

Assim, tudo pára e congela-se no refrescante relaxamento do corpo em transe a beira d’água, envolto na soma dos ingredientes da vida. O pensamento se esquece de tudo, o sentimento desliga-se de todos e o ar enche os pulmões embalados pelo canto dos pássaros.

Adormecimento e sonho.
Desejo de realizar.
Busca de objetivos.
Quando tudo estiver no lugar.

Wednesday, April 11, 2007

A SEGUNDA VEZ

Foi a segunda vez, naquele mesmo cenário, o mesmo palco, e lhe ocorreu não conseguir concentrar-se em nenhuma leitura, som, pensamento.

Apenas observava.

A janela emoldurava um ar diferente, melancolicamente alaranjado. Imperceptivelmente o movimento começava.

Buscava um caminho no espaço, com os próprios olhos, ciente que não veria o que queria: aquele veículo preto e seu condutor.

A única coisa visível era a avenida tão (estupidamente) engarrafada assim, tão cedo...

Que será de suas vidas?

(O ar estava menos poluído e o sol era visto como uma esfera gigante perolada logo acima de seu horizonte).

Tuesday, April 03, 2007

SORRISO REPOUSANTE

Aquela foi sua primeira noite antecedendo a uma viagem em que curtia a insônia sem grandes preocupações. Não precisaria estar acordada durante o trajeto que a levaria ao seu destino.

A direção do meio de transporte usado estava sob responsabilidade de outrem. Nem se atrevera a imaginar algum imprevisto que lhe impossibilitaria chegar aonde pretendia. Conscientemente não imaginara. Certamente algum fora imaginado no inconsciente, pois lhe fazia insone, mais uma vez!

Distraía-se entre mensagens e navegações. Entre teclas de telefone e de computador. Não sabia mais a que recorrer: se ao contar de carneirinhos ou se ao exercício da simpática técnica ensinada pela médica. Mas o discreto sinal de alerta – bem-vindo, fique bem claro! – não a deixava se concentrar. E entre um e outro digitar, sorriu!

(Ele - somente ele nos últimos tempos - conseguia a proeza de trazer àqueles lábios um sorriso repousante!).

Deixando, então, os aparatos tecnológicos desligados, deitou-se languidamente, sabendo que o sono logo lhe alcançaria.

CERTEZAS (ou não!)


Posso perder minhas chaves, perder hora, celular, entradas de cinema, até mesmo trem... Mas perder inspiração? É judiação!

Levo-me então para o meio do mato, sem sinal de gente viva, ou morta... Imponho-me um auto-exílio - quem sabe assim voltam idéias e pensares que em palavras redimam meu coração?

Nada... Nada aconteceu, e de volta estou a civilização. Para minha salvação em breve riscarei os céus. Que seja azul e sem apagão!

Se Deus quiser, chegarei. Tudo tão corrido, tão seco, tão abafado... Mesmo com meu beijo cansado, abraçá-lo-ei. Se eu chorar? Ele secará minhas lágrimas. Estou certa disto.


P.S.: Vamos juntos ver a lua se pôr?