Não sabia para onde olhar. Pensava até mesmo em procurar por aquele derradeiro cigarro do qual não dera notícia, como sinceramente falara.
Sabia que a semana correria lenta, abafada, amarela de ares esquisitos, nuvens incertas e cores opacas. Lembrara do livro que não terminara: suas expressões, sua narrativa poética e as verdades contidas em suas páginas. Poderia ver com os próprios olhos imaginários cada pedaço de terra, de vegetação, de riso e choro daquelas vidas.
Pensara nas pessoas com quem não falava há muitas semanas - ou meses! Forte em seu peito a certeza do sentimento, da amizade, da solidariedade sincera para com cada um, e que lhe chegava em reciprocidade de palavras carinhosas.
Parara de novo e refletia: "palavras". Como aquele par de aves que vinham e iam a busca dos gravetos para um provável ninho. Ninho: palavra doce. Acolhedora. Seu ninho era somente para si. Eventualmente uma companhia, que rompia o silêncio e o sono. Trazia um pouco de ânimo para aquele refúgio fresco e pálido.
De onde traria cor para aquele pedaço de seu dia? Como administraria uma rotina tão desejada e tão distante? Em que agenda, em que tabela marcaria os passeios, os cinemas, as caminhadas, e em que ritmo suaria a camisa por quem lhe alertara poucos dias antes da importância de se priorizar somente o realmente importante?
Chegara em meio tempo à crise de qualquer espécie? Sentia o dia como o último e era ainda o terceiro na mais forte luz do verão antecipado. Policiaria-se quanto às memórias: somente o que lhe der esperança.
A visita do final de semana.