Thursday, November 23, 2006

O ELIXIR DO MOMENTO

O dia começou tarde. O relógio não despertou – ou foi o corpo que o ignorou? Teria apenas o turno da tarde para cumprir os compromissos profissionais e ainda assessorar a colega naquele projeto independente. Alegrava-se de ter contribuído com a indicação de um de seus favoritos escritores. Sentiu-se realizada que eles conseguiram chegar a um acordo que satisfizesse às duas partes.

Talvez por influência da cor, ou do cheiro – ou do significado que tinham? – o desejo despertado junto com o sono foi de beijos, beijos, milhares de beijos. De todos os jeitos em todas as partes. Cobrindo toda a geografia corpórea. Tudo que menos lhe ocupava as prioridades eram os compromissos...



Enquanto na mesa de negociação as informações técnicas e metodológicas lhes eram explanadas, seus olhos atentavam ao seu campo visual e aos interlocutores mas sua mente vagava distante quase um milhar de quilômetros a encontrar num ar cinza e abafado o sorriso e bom-humor envolvidos e temperados pelos beijos e beijos que desde o início de seu dia desejou.

Telepatia? Não tinha capacidade para tal – ou seria falta de fé? Chegou em casa, quis cochilar, lutou contra o sono e mergulhou nas águas da imaginação. Só conseguia ver beijos. De todas as cores e sons e cheiros e sabores. Lembrou-se dos seus guardados antigos, abriu uma gaveta, tirou um arquivo antigo; lá dentro, recortes e mais recortes de... Beijos!



Não teve dúvidas. Enviá-los-ia imediatamente. Destino certo, a novecentos e tantos quilômetros ao Sul, dobrados, lacrados, selados, enviados. Quando mesmo seriam dados no calor dos corpos e no sentir da pele? Não mais de si dependia isto. Nem mais se preocupava.

O elixir do momento, do viver um dia de cada vez finalmente fazia efeito definitivo naquela vida.

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