Thursday, September 14, 2006

SOLITUDE - Sol em Tudo (Parte II)

Já era madrugada. Cães, pássaros, carros, vozes... Todos se calaram. Dormia a casa, o jardim, a vizinhança inteira! Silêncio, serenidade, sossego. Deleitava-se nesse trio. Poderia render-se ao sono e descansar, ou poderia manter-se alerta para usufruir singular prazer: o prazer da solitude. O céu escuro decorado pela lua em metade bem alta, já longe, menor e mais branca do que quando a viu no início daquela mesma noite.

Escolheu a opção que sempre lhe foi mais agradável: solitude. O tempo passava por si, os anos juntamente com as marcas da vida e das experiências lhe sendo impingidos no corpo e na alma faziam com que mais e mais apreciasse essa dádiva a qual, percebia freqüentemente e com pesar, poucos sabiam valorizar e gozar. Junto com os sinais que trazia pela vida, a estes somava o crescente apreço pela solitude. Essa capacidade de ficar consigo mesmo, de aproveitar sua própria companhia e fazer crescer o auto-conhecimento. O prazer por estar em sua própria presença. A não-necessidade de outros quando apenas si mesmo lhe é suficiente.

Então começou a pensar no que ouvira no final do dia. Foi a respeito de borboletas. Há algum tempo vinha pensando sobre isso. Chegou a rabiscar alguma coisa a esse respeito. Pouco tempo depois recebera de uma conhecida querida uma belíssima expressão textual que falava em borboletas. Nesse tempo todo chegara mesmo a pensar em fazer uma tatuagem em que nalguma parte haveria uma borboleta. Já tinha até mesmo separado a foto da borboleta que queria marcando seu corpo.

Enfim, começou a pesquisar sobre esses delicados e decididos invertebrados. Selecionou, catalogou alguns estudos científicos, outros nem tanto sobre as borboletas. Sabia que elas vinham de lagartas que depois de usufruir um tempo de vida como tais passava outro período em um casulo e dali, em outro tanto de tempo, a bela borboleta sai, aguarda mais seu necessário período para secagem e alongamento das asas a fim de estar pronta para voar. Fazia a pesquisa, e a seleção de textos a serem arquivados com o intuito de se dedicar a eles no dia seguinte.

De repente... No meio da madrugada... O sinal. Silêncio quebrado. Aviso. Alerta. Os olhos saíram da leve sonolência, os lábios esboçaram um sorriso discreto e já em pé foi-se preparando... Não poderia faltar a tal encontro! Certeza de diversão, gargalhadas, muita conversa intrigante e interessante, compartir de experiências e troca de energias intensas, adição de conhecimento e informações. Um natural caminhar pela vida...

E foi assim e por essa razão que com alegria e satisfação contemplou um amanhecer há muito não visto: horizonte sutil e homogeneamente alaranjado transformado no degradée das cores fundidas que formaram o azul do céu que se estendia sob suas cabeças, inicialmente fraco seguido como em uma sinfonia silenciosa pelo crescendo allegro até chegar no fortíssimo. O perfeito sinal da Criação que sinalizava o nascer do astro rei, para cumprir seu percurso e presentear a terra inteira com um belo dia de luz e brisa, em que a esperança renascia envolta aos cuidados amorosos e fiéis aos que dela se enchiam.

E orgulhosamente feliz olhava para o espetáculo que presenciara, concluindo: Valeu a pena uma noite não dormida!

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