UM DIA VIVIDO

O sono acompanhou sua vida por todo o dia: ao acordar, alongou o corpo e voltou a dormir. No segundo despertar, resolveu aproveitar o dia fora de casa. Céu azul, sol firme como sempre apreciou. Temperatura amena, lembranças de belo horizonte, decidira qual o programa.

Foi desafiador o contato permanente, íntimo e afetuoso: e se chegar? E se vier? Como vai encontrar tudo? O pó invisível, mas perceptível, faria parte dos planos? Não, não poderia. E se não vier? Ora, em vindo ou não, o merecimento de tudo em sua melhor forma é real, e justo. Assim, alterou a agenda, ergueu as mangas e partiu para a batalha. Ao findar, sentiu no ar o cheiro da recompensa: jasmim e eucalipto. Cada coisa em seu lugar e a animação da trilha sonora que tem embalado seus dias desde a mudança trouxeram o sorriso. Pegou as chaves, abasteceu o automóvel, cumpriu as tarefas solicitadas, encontrou as pessoas para o almoço e não resistiu: foi ver seu pôr-do-sol.

Como foi tranqüilo... Como foi frio!

Pensares, pensares... Lembranças, vontades, saudades...

Cores, neblinas, pó vermelho, coloridos no ar, latidos ao longe... Poucas pessoas, como sempre preferiu. Revigorou a alma, o coração. Tentou não pensar muito nos compromissos do dia-a-dia...
Despediu-se daquele pequeno pedaço de paraíso e foi às compras básicas. Atreveu-se com uma garrafa de soda, ousou com um mês inteiro de abastecimento do novo ingrediente de sua dieta diária, organizou-os ao retornar onde seu dia começou e enfim preparou-se para o mais esperado encontro.

Faltava apenas avistá-lo.