Friday, January 25, 2008

UM CHEIRO DE INFÂNCIA

Incrível: depois de décadas ela entrou naquela sala e sentiu o mesmo cheiro, familiar. Pediu licença e abriu a porta da sala vizinha. Sim, é o mesmo cheiro. Naquele interior envolvido de fresco abundava a alta temperatura.

Não havia diferença entre o agora e o passado. O tamanho da máquina provavelmente era o mesmo, o que mudou foi o seu tamanho. Lembrava das pedrinhas que jogava no chão, sentada, enquanto perto de si os dois homens agachados labutavam, suavam, molhavam a camisa, por horas e horas, até encontrar – ou não – onde estava o problema e qual a solução para aquela caixa de metal cinza, que nunca parava de exalar seu calor.

Não lembrava de poeira no passado. Antagonicamente, foi no presente que a encontrou. A idade também era diferente: um bebê recém-nascido no passado, e hoje se deparando com um ser de terceira-idade. Este, cheio de remendos, costuras, muitas partes ressecadas pela passagem dos anos, pelo descuido de seus responsáveis, pela crueldade dos avanços que não lhe contemplaram.

Era o sofrimento nos ponteiros que recusavam-se a levantar. As forças jaziam, as dificuldades, os desgastes, a vida útil passaram. "Não haveria remédio?", ela pensou. Entretanto, o som que ouvia emitido não era de agonia, e sim de uma braveza como que em sinal gritante de que ainda tinha seu orgulho e honra em plena carga! Contemplou-o languida e derradeiramente com um olhar compassivo antes de se retirar.

Em poucos instantes tocava o telefone e uma voz avisava: "Tenho alguém com uma peça que precisamos, porém não é nova".

Pensou no custo, na responsabilidade, na decisão que precisa tomar. Lembrou-se de um dos homens que agachado consertava, e conserta até hoje: “É a ele que vou recorrer para encontrar a solução”.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

rsrsrs... eita valvulazinha teimosa heim... tinha de ficar fraquinha logo agora??
Beijos linda

Seu

2:08 AM  

Post a Comment

<< Home