Saturday, January 26, 2008

SACIEDADE

Saiu à tarde a buscar saciedade para uma sede e fome de conhecimento conjugado ao sentimento e novos ares. Incrédula de que alcançaria tal intento. Como encontrar o que ansiava – o desconhecido, novas descobertas enfim, novas experiência – onde já vira tudo e as mesmas pessoas estavam ao seu redor?

Pesara sobre sua consciência a cobrança de que fora sua falha, somente sua, não se ter inteirado de todos os detalhes da situação que lhe fizera mudar os rumos de sua vida há poucos meses atrás.

Ao adentrar aquele lugar, vendo sobre a insignificante mesa o guia estrangeiro, cujo destino lhe era sempre uma profusa aspiração, quase que fanática, ainda mais intensa lhe fazia a carga da consciência. “Lá certamente fartar-me-ia em todos os desejos e quereres”.

Pousou a bolsa sobre o encosto da cadeira e ali se aconchegou com os volumes sobre as pernas. Aleatoriamente, escolheu um deles para usufruir o tempo indeterminado que tinha para permanecer ali. Respirou aliviada por ter optado em não usar aqueles cartões dourados. Sabia que, se os portasse naquela tarde, fatalmente utilizá-los-ia.

Para sua surpresa, em poucos instantes, quando mergulhava em concentração na perspectiva de suprir sua sede ou fome – acreditava que ambas não seria capaz, já que impossibilitada de ausentar-se por mais de um dia inteiro – foi interrompida e precisou retornar ao aconchego de seu refúgio quase tão secreto. “Pelo menos as visitas aqui são raras e seletíssimas!”.

Olhou ao redor, organizou alguns pertences, atualizou-se, admirada, de que por algum motivo espetacularmente desconhecido, más notícias foram amenizadas pelo otimismo daquele canal. Apática e automaticamente conectou-se e sem saber porquê, chegou até aquelas palavras.

Instintivamente, sorvia-as convulsivamente, faminta e sedenta que estava. Não compreendia ainda que ali, sem precisar mover-se de um palmo de altura assento, encontrou o alimento completo – sólido e líquido, comida e bebida, aroma e sabor – que procurara e não encontrara antes.

Novamente incrédula, depois de manter-se no silêncio que instalara em toda vizinhança, como que providencial, só pôde pensar no novo desejo que aflorara: queria fundir-se àquelas palavras, e todas as incontáveis que dali brotam incessante e profusamente, como nunca antes desejou-as todas consigo, em todas as formas e de todas as maneiras. No âmago de seu ser avolumava-se a terrível carência de palavras, privação de dilatar-se no cosmo.

E concluiu que assim como com palavras sacia sua sede e sua fome, também com elas provoca-as imensamente, simultaneamente.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

rsrsrs....boiei...

Bjs

1:41 AM  

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