A Terra muda Tudo mudam Todos...

Tuesday, November 28, 2006

A ANA QUE EU QUERO SER II

A Ana que quero ser
Não se abate por não ver e não saber
Os porquês a si impostos...
Ela não desiste dos desejos
Que busca, firme em todos eles.
Quero ser Ana que não fica triste
E não chora por algo que não tinha que ser
Mas sorri agradecida pelo tempo do vivê-lo
A Ana que do passado não desfaz
Ainda que não mais olhe pra trás.
Quero ser Ana que luta contra a melancolia
E vence sobre ela com perene alegria
Ana que vive da força inesgotável
Que faz de si alguém mais notável
Que aprende a fazer seus planos
Independente do que vem depois –
Ou do que acha que vem!
Quero ser Ana que deita e dorme e sonha.
Mesmo acordada!
Que dá voltas e volta e voa.
Mesmo com os pés no chão.

Sunday, November 26, 2006

A ANA QUE EU QUERO SER

Quero ser Ana das mudanças possíveis
Ana das possibilidades, dos sonhos, das realizações.
Ana de sorrisos e abraços, da amizade e das paixões,
Ana que acredita e espera,
Que faz e arrisca e se estribucha no chão,
Levanta dali, sacode a poeira e começa de novo!
Quero ser Ana independente de rimas
Ana que encanta com a verdade,
Fantasia com realidade
E faz de seu lugar
Lindo lar
acolhendo os que lhe são afins.
(Ana bacana, assim, deve ser difícil não!)
Ser Ana que bebe a chuva e toma o sol
Ana que aparece que nem flor-de-seda
Ana que cresce, estremece e enternece
Em brevidade ou permanência
(Pois é presente de Deus, não de homem!)
Ana que não se prende ao tempo
Que regozija no coração
Que busca a força na razão
Ana que tem vontade de acreditar
Que abrir os olhos é enxergar com o coração
Ana que tem no sorriso o sinal
De que tudo dá certo no final.

Quero ser Ana que é Karina
Kaká de queridos, Ká de amigos,
De cores e amores
Que amenizam minhas dores.

ELDORADO III

Telefonemas de pessoas queridas, que no meio da madrugada pensaram na gente e resolveram ligar apesar do horário; amáveis mensagem de texto no celular, que você lê em qualquer lugar e, se quiser, responde na mesma hora; campainha virtual com a imagem de alguém querido; sono que chega quando a insônia alcança limites intoleráveis...
No meu eldorado tem tudo isso! E se algum faltar, dou meu jeito de fazê-lo acontecer - ou sumir para sempre! São eldorados que tenho aperfeiçoado e outros que tenho conhecido.

Friday, November 24, 2006

ELDORADO II

chegou sem atrasos
nem demora
cumpriu o exato momento
em tons de verde e rosa
e no azul do céu
daquele menino voador
veio seu rosto juntinho
e suas palavras em brisa
trouxeram convicto
eldorado em mim.

ELDORADO I

Todo mundo busca seu Eldorado. Muitos trabalham tanto por isso que se esquecem da família e perdem a preciosidade que é ver seus filhos crescerem. Vaidosos, fazem das aparências e das posses, dos carros e das roupas, o passaporte – ilusório – para o país perfeito. Estudados, inteligentes buscam todas as explicações e ciência para levar com o mais preciso cálculo ao país distante e cheio de riquezas. Incontáveis outras tentativas para chegar em Eldorado. Ainda há os que se entregam aos mais inadequados vícios na esperança de que assim consigam decolar rumo ao paraíso dourado.

Muitas vezes a busca se torna tão freneticamente ilógica que por fim o Eldorado acaba esquecido, abandonado ou desacreditado.

Eu sempre acreditei em ter meu Eldorado em algum lugar desde mundão! E confesso que sempre o desejei bem longe, num lugar despovoado, predominantemente verde e azul, onde o vento é constante, nuvens como flocos de algodão formando caminhos no céu durante o dia, sol que doura a pele e montanhas, muitas montanhas com vastas planícies aos seus pés, noites frescas trazendo garoa fina constantemente... Um rio acompanhando-as montanhas tornaria mais perfeito meu Eldorado.

Hoje tive uma agradável prova de que o Eldorado nos encontra quando nosso coração se abre para os encontros. Bem, pelo menos “o meu” Eldorado. Pra mim, hoje, entendi que ele é aquele país próximo, que de tão próximo, está dentro da gente. E só podemos viver nele quando abrimos o coração e deixamos que pessoas de boa-vontade venham se tornar cidadãos eldorados junto da gente. São aquelas pessoas, um dia li, “a quem Deus quer bem”.

Cidadãos do meu Eldorado têm poesia em cor, aromas em flores, brisas em momentos de vida, são amor em forma de gente e a amizade que nunca acaba porque ela está no coração, junto com Eldorado. Gente que tem riqueza de caráter, pérolas de carinho, cuja atenção e cuidado são como diamantes e a sinceridade e lealdade são como ouro refinado. É gente que de tão gente boa parece que é ser celeste e não humano. O olhar é amplo e transparente como o cristal mais raro e puro.

Hoje eu estou certa de que quando quero sair em busca do Eldorado, na verdade o que desejo é levar o Eldorado que tenho em mim para tantos lugares quanto possível a todas as pessoas de boa-vontade que tenham no coração terra fértil para que uma semente do meu Eldorado eu possa deixar e então nos quatro cantos do mundo eu veja Eldorados crescendo e se multiplicando.

MADRUGADA SEM SABER

Não entendia o que acontecera naquele dia que terminara: Conseguiu a proeza de dormir por algumas horas e desperta novamente ficava a pensar... Antes, despiu do rosa-vermelho seu travesseiro, deixou aquela cor num canto amarrado como a lembrar uma bandeira tremulando em guerra.

Todos os contatos que teve no decorrer da rotina foram indesejados. Nenhum tinha a marca ou sentido que queria. Nem um único. E por isso mesmo abandonou a cor, programou o coração e desejou que a correspondência pudesse ser como um selo de encerramento. Era uma de suas defesas colocada mais uma vez em ação.

Sabia, porém, que aquele desejo era contrário ao que sentia realmente. Sua vontade tão emocional, abandonada a razão há tempos, encarava novamente os moídos pedaços de um coração moribundo. Existiria uma cola, um efeito, uma restauração para ele? Novamente pulsaria?

Contentou-se com a alegria efêmera que lhe era permitida ultimamente e nada mais que isso esperaria. Apenas voltar para a vida, sem demoras e com vigor. Isto, sim, parecia-lhe um sonho distante a ser alcançado. Nem ajuda sabia onde encontrar. Ela não existia para isso, enfim. Sabia disso.

E esperou nada mais. Como se assim tudo estivesse adequadamente resolvido, sabendo que não. E a dor-de-cabeça foi sua única companhia que permaneceu ali, silenciosa e cruel, como aquela madrugada.

Thursday, November 23, 2006

LUGAR DE VIVER

Naquele lugar de brilhos, glorioso e suntuoso na simplicidade da perfeição. O lugar em que finalmente vê seu lugar ao sol, que aquece na medida certa e refulgente não incomoda os olhos. A chuva que cai é de refrescar e nenhuma lágrima concorre com ela. Está no lugar certo. Existe, enfim encontrado.

Sabe onde está o centro e qual a vizinhança onde é sua habitação. Ali é o lar. O esperado. Encontrado, enfim. Não havia dúvidas quanto à beleza do lugar. A arquitetura incomum é agradável aos olhos e em equilíbrio com a proposta do lugar em tons, ângulos, altura e cumprimento.

Os demais moradores, os sorrisos, olhares repletos de felicidade e acolhimento. Aquele é o lugar em que quer ficar. Sabe com exatidão ser ali onde as pessoas e os acontecimentos que importam em sua vida estão presentes. Nada mais lhe é necessário que não encontre ali.

Demorou um pouco. Com alívio dá um suspiro de boas-vindas a si mesma, um ar puro e renovado enchendo-lhe por completo, dos pulmões oxigenando o sangue e todo seu organismo. Sua mente, ali, transformara-se e a si numa espécie de sopro, como se seu corpo não mais existisse apenas sua vida, sem os pesos, preconceitos, julgamentos. A vida pela vida.

O ELIXIR DO MOMENTO

O dia começou tarde. O relógio não despertou – ou foi o corpo que o ignorou? Teria apenas o turno da tarde para cumprir os compromissos profissionais e ainda assessorar a colega naquele projeto independente. Alegrava-se de ter contribuído com a indicação de um de seus favoritos escritores. Sentiu-se realizada que eles conseguiram chegar a um acordo que satisfizesse às duas partes.

Talvez por influência da cor, ou do cheiro – ou do significado que tinham? – o desejo despertado junto com o sono foi de beijos, beijos, milhares de beijos. De todos os jeitos em todas as partes. Cobrindo toda a geografia corpórea. Tudo que menos lhe ocupava as prioridades eram os compromissos...



Enquanto na mesa de negociação as informações técnicas e metodológicas lhes eram explanadas, seus olhos atentavam ao seu campo visual e aos interlocutores mas sua mente vagava distante quase um milhar de quilômetros a encontrar num ar cinza e abafado o sorriso e bom-humor envolvidos e temperados pelos beijos e beijos que desde o início de seu dia desejou.

Telepatia? Não tinha capacidade para tal – ou seria falta de fé? Chegou em casa, quis cochilar, lutou contra o sono e mergulhou nas águas da imaginação. Só conseguia ver beijos. De todas as cores e sons e cheiros e sabores. Lembrou-se dos seus guardados antigos, abriu uma gaveta, tirou um arquivo antigo; lá dentro, recortes e mais recortes de... Beijos!



Não teve dúvidas. Enviá-los-ia imediatamente. Destino certo, a novecentos e tantos quilômetros ao Sul, dobrados, lacrados, selados, enviados. Quando mesmo seriam dados no calor dos corpos e no sentir da pele? Não mais de si dependia isto. Nem mais se preocupava.

O elixir do momento, do viver um dia de cada vez finalmente fazia efeito definitivo naquela vida.

Tuesday, November 21, 2006

NUM DADO MOMENTO

Não tinha esperanças, pensava ser um caso perdido! Não há soluções, nada que resolva! Acreditava mesmo ser sua sina sofrer da insônia. E ria, depois daquela mensagem e daquele telefonema àquela hora da madrugada. Já era quase dia e trocava idéias e opiniões com a colega de trabalho. De um lado da linha a excitação e ansiedade pelo trabalho ao qual tanto tempo, energia, talento e dedicação foram doados e do outro lado a ansiedade por causa de mais uma noite insone sem motivos aparentes. Mas sabia que isso não era verdade. Sabia, bem lá no seu íntimo, que havia, sim, uma razão que pudesse explicá-la.

O que realmente lhe agradou, todavia, foi que junto à mensagem e ao telefonema, chegou-lhe uma foto. Constava agregada uma gravação. Não conseguiu ouvir o que dizia, ainda assim contemplou por longos minutos aquele olhar sensível e que dia-a-dia vinha se tornando conhecido e querido mais e mais.

No outro telefone o sinal apita. Nova mensagem. “Ora, ora... É madrugada de se ficar acordado”, pensou. E continuando falando consigo: “Hoje o dia promete: muitos bocejos, desconcentração e cansaço”. A contar pelo colorido da foto e serenidade do olhar, valerá cada minuto do dia em que esforçará para se manter atenta e trabalhando com a disposição de quem dormira a noite toda!

Se tê-lo distante era estranho, tê-lo no coração e com tanta atenção carinhosa afetou-lhe como um sonífero dos fortes. Mais uma vez riu e deitando só conseguia pensar sorrindo “num dado momento não tão longínquo...”.

Sunday, November 19, 2006

ESTRO 31 - SEM DISTRAÇÃO

Não havia nada pra distraí-la naquele momento... Indisposição, cansaço, calor. Soma-se isto ao não cumprimento da agenda programada antecedentemente. Depois de tanto tempo e animara-se sair, conviver... Não adiantavam músicas, filmes, livros... Precisava de repouso. Uma dose de carinho? Certamente. Conforme soubera instantes antes, em breve isso ocorreria. Quando? Não tinha a mínima idéia.

Friday, November 17, 2006

O QUE VALE A PENA

Um telefonema no final da manhã, risadas e algumas palavras trocadas, informações atualizadas e compartilhar de compromissos. Sem perceber aqueles dois estavam avançando no caminho do ser par. Não importava o tempo: seu intento era dia por dia.

Era sol num canto e no outro, distante, previsões de chuvas. Calor ali, frio acolá. Naquele momento pelo menos um deles não se lembrou da noite anterior que poderia influenciar o transcorrer da tarefa daquela tarde. Pode ter passado desapercebido, mas há efeitos que perduram invisível e indelevelmente.
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Ao seguir pela estrada, acompanhado de tão distinta autoridade, o asfalto de repente se transformou em pista de patinação no gelo! Tornara-se escorregadia, a despeito da baixa velocidade desenvolvida no automóvel. A combinação de chuva e óleo fez com que muitos rodopios fossem vistos naquele instante.

Não, não era cena de filme. Nos filme há muitas cambalhotas, chamas fumegantes e explosões. Para eles, uma única tombada, e o carro se arrastando vários metros adiante antes de finalmente parar. Saíram com dificuldade pela única porta desimpedida e constataram-se intactos. Nenhum arranhão e o susto enorme. A tecnologia dos cintos-de-segurança automobilísticos vez mais comprovara a necessidade de seu uso.

Como é de se esperar nessas situações, a fila de caminhões imediatamente se formou, a solidariedade desses anjos do asfalto e a intensidade de emoção daqueles dois que vivenciaram tal experiência demonstraram que união é força: colocaram o veículo em sua posição normal, e agilizaram as demais providências necessárias de resgate.

Detalhes não havia desses momentos, no telefonema do final da noite. Além da participação do acontecido, susto e preocupações iniciais, existia naquele canto abafado a certeza de que “tudo tem um propósito. Não há acasos, e acidentes são oportunidades para sermos criativos e para auto-superação”.

Era bom ouvir aquela voz, bem. Desejava trazer um pouco da alegria e da descontração do final da manhã para o final da noite e contribuir para que tudo, tudo valha sempre viver.

Thursday, November 16, 2006

VIDA

inteiramente ela, bela!
cada fase de vida, bonita!
onde não vê o cetim, há tim-tim!
brindando, brincando
tititis pelo ar, por amar!
cheia de vida a cada instante,
luz que floresce incessante!

Tuesday, November 14, 2006

BRINCADEIRA DE ANJOS

Não procurara por inspiração, nem olhara ao redor. Não ligara uma música. Aliás, todos os ruídos eram-lhe estridentemente irritantes! “Liguem o mute da vida!”; “Eu vou chamar o síndico! Tim Maia!”.

Bom lembrar que o bom-humor aflorara-lhe pouco depois de um longo e demorado dia úmido sem a temperatura que gostava mais e que poderia lhe trazer à pele as sensações do último final de semana...

Cadê? Não aparecerá? Eis que vem, e não demora!, ela acreditava e intensamente desejava.

E a mágica acontece, ou uma resposta ao desejo do seu coração. Luz que pisca, campainha ressoando... São eles! Juntos, ali! Estendendo mãos, trocando olhares, corações em sentimento pulsante, pois que os olhos se encontraram...

Pouco mais que vinte e quatro horas sem se ver e aquele encontro produziu sorrisos, risos, alegria como que reprimidos por meses! Ah, felicidade de momentos, que deveria durar eternidade! Até que estes momentos não lhe deixavam com a ansiedade costumeira, já que, sabia-os, efêmeros...

Muitos de seus exercícios mentais consistiam em criar as defesas contra o sofrimento proveniente de tais encontros, de tal felicidade, de gostar. Uma que de certa forma distinguira entre várias era não pensar muito, não lembrar tanto e apenas viver dia por dia. Se hoje estava sozinha, era como tal que se comportaria. Se junto com ele, quando novamente se encontrassem, nestes conformes agiria...

Então, como de costume em sua solitude, juntou seus livros ao redor, desligou o relógio e se aconchegou sob a manta para mais uma noite insone. Desta vez, com o coração sorrindo porque aqueles dois tão lindamente parecidos iam brincar noite afora até que o cansaço os consumisse e como anjos adormecessem lado a lado(...)!

Sunday, November 12, 2006

VIDA POR TODOS OS LADOS


Ele olha direções incomuns. Fotografa com o coração. Seu pensamento prático e bem-humorado transborda-lhe com palavras e sorrisos. Veio na vontade latente e no desejo ardente. Transpondo a distância, ousou acreditar. Enfrentar o medo que não é seu, abraçar a beleza do amar. Fazer acontecer na claridade do instante, a natureza do momento. Criando pequenas pérolas ao acolher em compreensão um pedaço de coração. No ritmo do respirar, no ponto de encontro entre a liberdade e o silêncio “cercado de vida por todos os lados”.

ILHA DE MONTANHAS

O toque do olhar, o sentir das palavras, o ouvir de todos os beijos. A paz do ar e o silêncio do lugar, as cores tão brancas e o vento inebriante, como cada momento em que os corpos se uniram e em todos os minutos em que puderam se permitir. Os passos, as mãos, os olhos, a pele. Em cada ponto, em cada gota o respirar da vontade que saiu do claustro e nadou até a ilha em montanhas onde nascem águas de esperança. Lavando e limpando o passado que dá espaço e motivo para o presente e o sorriso. Encontro de carinhos no coração da gente.

Monday, November 06, 2006

SONHO ENCANTADO

O sonho como um lugar... O equilíbrio e os sentidos... A luz da imaginação... Concentração... Se na feição é tristeza, no coração a singeleza da esperança do querer que se materializa... A harmonia do grande e pequeno, alto e baixo, rápido e vagaroso, leve e pesado... Encantamento de movimento... Vem, alegria, salta dessa redoma, traz para a Terra a lua, elimina o cansaço, toma-me as mãos e carrega-me nos ombros, dá-me uma visão diferente, desnuda-me e ergue-me, colore meu pensar, acompanha meu olhar e adivinha meu ansiar... Retorna-me então às estrelas, de onde não se desvia meu olhar... Pra lá salto, de lá volto em giros e piruetas que nem podes imaginar. Não me alcanças mais! É pela companhia e pelo instigante desejar... Saber da luminosidade e do misterioso. Façanhas de força e arte. Ouvir, ver, sentir, experimentar, tentar, atentar... Despertar.

Sunday, November 05, 2006

APENAS

Pois que o amor independe
Porque é consciente.
Ele é por si e não por outrem.
Ele se basta mais hoje que ontem.
Não precisa de par.
Precisa apenas amar.

DESATINO (Poetrix 2)

sem os atalhos
e sem nenhum destino:
só desatino.

Thursday, November 02, 2006

O QUE COMPRAR?

Por volta das três horas, numa rara tarde tranqüila pelas ruas da metrópole e lá vai ele guiando o carro – qual modelo e cor desta vez? – com leve ar de ansiedade e distante pensar, envoltos pelo semblante feliz...

Queria passar uma boa impressão. Não sabia qual a cor, modelo ou estilo seria mais apropriado. Ah! Quem lhe dera ter ouvido no lugar da sugestão de presente, que sua presença seria o presente mais importante! Ao contrário, acabou ouvindo uma resposta racional à pergunta sobre o que poderia ou deveria comprar.

Presentear era-lhe árdua tarefa, como repetiu algumas vezes. Nunca se sentia seguro e confortável com a idéia de ter que escolher por si mesmo algo de que outrem usufruiria. Não era pelo valor material e sim pela exposição de si através da escolha do presente: afinal, o que é o presente que não a expressão de quem o oferece?

Uma ligação, algumas risadinhas entre descontraído e breve diálogo livraram-no da inquietação que lhe envolvia a escolha de um presente. Esvaiu-se aparentemente sua apreensão.

Encantadoramente singelo o fato de escolher aquela tarde de feriado para providenciar a encomenda feita em nome da amizade e o seu próprio intento de presentear aquela que lhe tornara tão afetuosamente cara.